terça-feira, 26 de abril de 2011

Tenho dificuldade em acreditar em Deus

Faz alguns dias passei os olhos por este título e resolvi ler...

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"Faz-me confusão o tempo que as pessoas investem em mitologias e tretatologias quando os mais intrigantes e deliciosos mistérios nos são fornecidos pelas descobertas científicas. Cada descoberta encerra um mistério; por cada mistério que se desvenda, outros se revelam.

Porquê então esse fascínio por pseudo-ciências e seitas e religiões?

A religião tem uma vantagem sobre a Ciência: explora as fragilidades psicológicas do ser humano. O nosso ego é um gigante com pés de barro. E achamos muito reconfortante um sistema de crenças sustentado na delirante ideia de que este mundo foi produzido para nós numa fábrica gerida por um administrador cósmico, supremo e infinitamente benevolente.

É um mundo muito mais agradável de explorar.

Até poderia considerar a existência de um deus-pai que concebeu este Universo como um gigantesco jardim de infância onde os filhos de Adão e Eva podem brincar; até posso compreender que esse deus tenha resolvido criar uma série de regras para educar as suas criações humanas, ajudá-las a viver em sociedade, não fazerem mal, não roubarem e não serem demasiado badalhocas no acto sexual da reprodução.

O que me faz confusão é que um deus tão infinitamente bondoso seja tão inconsistente na forma como actua no mundo.

As pessoas de fé estão dispostas a aceitar, sem pestanejar, que uma criança sobreviveu a um terramoto devido a uma intervenção divina, «à vontade de Deus»; no entanto, dificilmente tais pessoas culparão Deus por ter permitido que dezenas de inocentes percam a vida no mesmo terramoto.

Se uma pessoa de fé está disposta a admitir que Deus interveio no salvamento de uma criança, por que razão não terei eu o direito de dizer que Deus cometeu um homicídio por negligência por não ter salvo todas as outras?

Quantas pessoas morreram no Antigo Testamento como resultado da acção directa de Deus? Um milhão? Dois milhões? Assassínios em massa por motivos religiosos fazem-me lembrar as acções de psicopatas como o Bin Laden e, contudo, o que Laden fez ou mandou fazer é uma brincadeira, se comparada ao que deus fez aos egípcios para libertar o Povo de Israel.

Pedem-nos que condenemos Bin Laden por ser desprezível – e eu concordo completamente. Em relação a este deus sem misericórdia, capaz de chacinar inocentes em nome de um ponto de vista ou objectivo divino, pedem-nos que o adoremos.

Eu não confiaria um filho meu aos cuidados de alguém que deixa as crianças morrer indiscriminadamente. Posso imaginar que um pobre pai, privado do filho, se sentisse no direito de perguntar «Deus, por que razão não o salvaste? Por que razão salvaste a vida daquele e não salvaste a vida do meu? Por que razão não salvaste todos?»

Há uns séculos fazer este pergunta implicava uma acusação de blasfémia, heresia e a ganhar o papel de actor principal no trágico espectáculo da fogueira. Felizmente, com o passar dos anos, os homens souberam evoluir – não posso dizer que a evolução e o progresso se devam a esta religião que tanto temeu o conhecimento.

E mesmo que já seja possível conceber um Deus menos quezilento e vingativo, mais moderno, tolerante e porreiraço, não consigo imaginar uma justificação lógica que me leve a aceitar a sobrevivência de uma criança em detrimento de outra.

Se Deus é dado a intervenções cirúrgicas no mundo, por que razão não desviou a trajectória da bala que feriu um certo cabo que combateu na I Guerra Mundial e que se chamava Adolf Hitler? Metia-lhe uma bala nos cornos e provavelmente teria aumentado a probabilidade de sobrevivência a muitos milhões de pessoas. Deus chacinou milhares de egípcios para salvar meia-dúzia de judeus, mas decidiu não matar um homem para salvar seis milhões?

Deus perdeu aqui uma boa oportunidade de fazer um excelente milagre.

Podem dizer-me «Sabes, as pessoas dizem isso, falam em milagres, mas isso não significa que Deus os faça; logo, não é responsável pela morte dos inocentes». E eu penso: que seria da fé cristã sem o milagre? Cristo sofreu horrores, foi crucificado, limpou os nossos pecados com mais três dias de morte e sepultura mas, por intervenção divina, ressuscitou.

Se todo este sistema de crenças assenta numa intervenção milagrosa cujo objectivo era demonstrar a existência do Além, por que razão as pessoas não haverão de esperar novos milagres?

Poderão responder-me que eu não sei nada – e é verdade – e os desígnios do Senhor são insondáveis, mas esse tipo de argumentos deixa-me às voltas num beco sem saída do pensamento.

A verdade, para mim, é esta: Deus é uma desculpa que nos ajuda a ultrapassar o terrível desconforto que é o de termos a consciência de que a nossa própria morte é inevitável. É-nos difícil conciliar os nossos feitos e conquistas, a nossa Arte, Tecnologia e Ciência, a nossa capacidade de amar, o alcance do nosso olhar e o prodígio da nossa inteligência com o facto de sermos meras criaturas biológicas com princípio, meio e fim – nascemos, deixamos descendência e morremos, como todas as outras criaturas que vivem na Terra.

É-nos tão difícil aceitar isto que estamos dispostos a aceitar tudo o resto. As velhas religiões politeístas acreditavam em vários deuses, cada um com diferentes personalidades; religiões monoteístas querem fazer-me acreditar na existência de um deus único infinitamente bondoso e, ao mesmo tempo, criminalmente negligente, um deus bipolar com sérias perturbações psicológicas.

O medo de morrer predispõe-nos a aceitar quase tudo?

2 comentários:

  1. Realmente há Senhores Gajos mesmo quadrados. Aposto que consegue bater palmas com as orelhas!!

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  2. "A religião tem uma vantagem sobre a Ciência: explora as fragilidades psicológicas do ser humano." Gosto muito desta parte :D

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