No fundo do meu quarto, como se da alma se tratasse, encontro aquilo que fui, que sou e quero ser. É lá que estou comigo agora. É lá que guardo as lágrimas que choro, sozinho, com vergonha de ser visto.
É lá que recordo aquilo que já tive um dia e que tanto, mas tanto desejo voltar a ter... no fundo do meu quarto, naquele recanto onde ninguém vê, sofro, choro, em silêncio. Por ti, se calhar...
Choro porque me arrisco a perder os teus gestos, o teu olhar, o teu abraço onde me dava jeito agora chorar. Por nós. Por aquilo que partilhámos. Pelo que somos. Pelo pouco que sou. Pelas minhas indecisões ou pela ausência delas. Pelo que queria que fossemos...
Gosto de ti! Gosto tanto...
Omnia Vincit Amor
Uma tentativa de colocar por escrito aquilo que surge, às vezes, com demasiada força...

quinta-feira, 22 de março de 2012
sexta-feira, 9 de março de 2012
Lucidez
Filho,
No dia em que eu já não conseguir ser o mesmo, tem paciência e tenta compreender-me. Quando eu deixar cair comida na minha camisa, quando não for capaz de atar os meus sapatos como deve ser, tem paciência comigo e recorda (traz ao coração!) as horas que passei a ensinar-te estas mesmas coisas
Se quando conversares comigo eu repetir e voltar a repetir as mesmas palavras, ao ponto de já saberes como termina a história, não me interrompas e escuta-me. Quando eras pequeno, para que adormecesses, tive que contar-te milhares de vezes a mesma história até que finalmente fechasses os olhos.
Se quando estivermos todos reunidos e, sem querer, eu me descuidar nas minhas necessidades, não tenhas vergonha porque eu nunca tive vergonha de te mudar a fralda tantas vezes quantas foram precisas. E possivelmente eu não terei culpa de já não me poder controlar.
Não me reproves se chegar o dia em que eu fizer birra porque não quero tomar banho... recorda as correrias que fiz atrás de ti para conseguir levar-te para a banheira.
Quando me vires completamente inútil e ignorante diante de todas as tecnologias que dominas de olhos fechados, peço-te que me dês todo o tempo necessário para não me magoares com um sorriso sarcástico... recorda com carinho todas as coisas que te ensinei. Comer, vestir, enfrentar a vida tão bem como hoje és capaz, modéstia à parte, fui eu quem te ensinou sem sequer reclamar uma única vez do tempo perdido.
Em tudo e sempre, foi tempo ganho!
Se algum dia, enquanto conversamos, eu me esquecer do assunto da nossa conversa, dá-me todo o tempo que eu precisar para me recordar e se eu não conseguir não fiques impaciente... talvez não fosse assim tão importante e possivelmente aquilo que eu realmente queria era estar contigo.
Se algum dia eu não quiser comer, não percas a paciência comigo... Recordas-te das colheradas de sopa de legumes que eu balançava de um lado para o outro, dizendo que eram aviões que precisavam de aterrar?
Quando as minhas pernas falharem por não terem já força para andar, dá-me a tua mão forte e terna para me apoiar, tal como eu fiz quando começaste a dar os teus primeiros passos.
Por último, quando se um dia me ouvires dizer que já não quero viver mais e prefiro morrer, não te zangues... chegará o dia em que compreenderás que este desabafo não tem a ver com o carinho que me tens ou com o quanto te amei e amo. Sempre quis o melhor para ti e esforcei-me sempre para preparar bem os caminhos que agora deves percorrer. Assim, com este passo que desejo adiantar-me a dar, eu estou a querer construir para ti um outro rumo, num outro tempo, fisicamente ausente mas sempre sempre contigo!
Não fiques triste, enojado ou com sentimento de impotência por me veres assim... dá-me o teu coração, compreende-me e apoia-me, tal como eu julgo que fiz quando começaste a viver. Da mesma forma que sinto que te acompanhei no teu caminho, peço-te agora que me acompanhes terminando o meu.
E, se de outra forma eu já não me puder expressar, o cuidado que me dedicares será retribuído não já com sorrisos mas sempre em dobro com o imenso amor que sinto por ti.
Atenciosamente,
O teu Pai
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